Essa é a ultima carta que te escrevo,
Não tenho conseguido falar contigo porque você sempre está acompanhada da tua amiga,
Estou numa fase terrível da minha vida onde todos os projetos que sonho não dão certo,
Estive analisando tudo o que ocorreu dessa história entre nós.
Eu cometi vários erros, e um deles foi ter pensado que você sentia alguma coisa por mim.
Não sei se você sentiu, mas eu naquela noite parecia que tinha sido atraído por uma força estranha.
Eu senti algo que me deixou fascinado por ti, que foi o teu beijo e o teu olhar.
Eu tinha sentido alguma coisa por ti desde daquela reunião do grupo de teatro nas obras de Assistência de Fátima.
O que mais tinha me chamado a atenção foi o teu olhar triste e meigo.
Depois que ficamos juntos no Casa Nobre eu senti que alguma coisa poderia sair entre nós.
Estava motivado na campanha eleitoral e eu era um dos mais cotados a conquistar uma cadeira na Câmara de Vereadores.
Eu fui escolhido para ser candidato por toda minha luta na Pastoral da Juventude onde fui membro estadual e pela luta contra a discriminação do negro.
Aquela noite horrível onde chutei o carro do idiota do Pedro Lima foi o fim da minha campanha.
Tentei ser teu amigo mas sempre com a esperança que você sentia algo por mim.
Me sumi por um tempo para tentar te esquecer.
Dai comecei a trabalhar na Autoval, após passar seis meses desempregado e vivendo de biscate em escritórios sem a menor condição de me contratarem.
Fui te procurar em tua casa como amigo e senti que você ficou tão feliz de me ver.
Passou o tempo
Resolvi decidir de uma vez por todas a parada.
Agora que percebi que tudo isso que estou relatando já tinha te falado pessoalmente.
Continuando, te convidei para sair comigo, você se fez de indiferente e nem ligou para mim somente me esnobou.
E no domingo para minha tristeza ti vi em abraços e beijos com aquele imbecil foi terrível e me senti um idiota e um bobo que amava alguém que não merecia nenhum sentimento. A mesma sensação que senti quando você me deixou como um idiota e entrou no carro do Pedro Lima. Eu senti no chamony naquela noite. Que coisa engraçada quando caminhava pela praça a coruja voava na torre da Catedral e gritava e eu sentia que no chamony você estava com outro.
Te chamei de puta e de "galinha".
Depois de todo vexame que dei por tua causa quando entrei com aquele porrete e vi você olhar para mim com aquele olhar, me enfraqueci e perdi as forças e o cara queria me bater e estava tão fraco que tive que fugir porque não tinha condições de brigar com ele.
Fiquei um bom tempo longe de ti
Me superei e consegui te esquecer
Tinha me isolado num sitio e na beira do rio fumando e começava esquecer tudo.
Bebia muito e inclusive encontrei uma gata tri-linda de Porto Alegre que me fez esquecer de ti
Me atirei na luta do partido.
Numa festa que foi no Hotel Serra Alta bebi igual a um condenado e só chamava o teu nome.
Depois de um bom período ter te esquecido
Numa noite ti vi passeando pela praça voltei ao esquema de te perseguir.
Quando passava pela tua rua me encontrei com você e olhei para os teus olhos senti uma dor por dentro e vi você me olhar com tristeza e resolvi falar contigo e me explicar de tudo que tinha feito naquela noite.
Dirlei ai começou as perseguições novamente. E começou aquele sentimento de amor e de ti querer a qualquer preço
Aquela sina e determinismo incrível tomou conta de mim.
Sei que você não me ama
E nem me quer como amigo
Mas uma coisa eu percebi
Que quando converso contigo me sinto tão bem.
A noite em que ti vi conversando com aquele idiota jogadorzinho do Glória eu comecei entender algumas coisas que corriam no meu pensamento.
Fui te seguindo quando vi a barulho de um carro que estava atrás de mim era o táxi trazia você e ele.
Eu não entendi o porque vocês deixaram o táxi ficar parado esperando que eu me afastasse da tua casa
Dobrei aquela rua escura e vi vocês se beijando e eu olhando tudo aquilo e sentindo uma mágoa de querer estar naquele momento no lugar daquele imbecil.
Dirlei você viu não fez nada, para mi é duro mas tenho que me acostumar e ver você nos braços de outros homens.
Porque sei que você não me ama,
Dirlei o pais está em época de eleições presidenciais,
Nós do PT sabemos se assumirmos o poder teremos que resistir na base das armas e revolução armada.
sabemos se perdemos e no poder entrar alguém de extrema direita teremos que nos exilar em outro pais. Porque voltaremos ao regime de ditadura militar.
Os artistas, poetas, escritores, homossexuais, prostitutas e militantes de partidos de esquerdas serão caçados, presos e torturados.
Eu sinto isso que logo eu terei que lutar para enfrentar a burguesia e quero até morrer. E sei se baixar a repressão vou ter que fugir do pais. Já estou pensando até me exilar na África, Cuba ou Nicarágua.
Dirlei você sabe que a Revolução de 1964 trouxe a esse pais.
Todo a juventude foi feita uma lavagem cerebral através da educação nas escolas.
O brasileiro ficou alienado e sem consciência critica das coisas.
Os militares provocaram toda a crise em que estamos afundados.
O capital do império americano tormou conta do Brasil.
O nosso pais foi vendido aos Estados Unidos.
Por isso odeio a burguesia e o sistema capitalista que nos achata a memória e nossa condição de vida.
Vejo crianças passando fome e comendo lixo nas ruas.
Vejo jovens se jogando nas drogas e no submundo do crime.
Vejo o negro ser discriminado,
Vejo o nosso jovem ser robô dos americanos,
Vejo você cada vez mais longe de mim
Vejo o por do sol e no fundo do coração sinto aquele chamado.
De pegar as armas e de lutar para que todos vivam melhor e que meus filhos tenham uma vida digna num novo mundo e num novo pais.
Vacaria, 26.06.1989
Autor: Paulo Furtado
Nenhum comentário:
Postar um comentário